https://pleno.news/ Thamirys Andrade
Crise pós-pandemia levou pessoas a se aproximarem da fé, afirmam especialistas
País já considerado “ateu”, Cuba assiste hoje ao crescimento evidente de evangélicos em sua população. Segundo o mestre em Estudos Sociais e Filosóficos da Religião pela Universidade de Havana, o cubano Pedro Alvarez Sifontes, embora não haja dados oficiais sobre o número de evangélicos no país, há um consenso entre especialistas de que essa fé tem ganhado cada vez mais adeptos na ilha, a ponto de ser possível encontrar grupos de jovens orando nas ruas. As informações são da BBC.
– Sem dúvida, temos visto um aumento [dos evangélicos em Cuba] nos últimos cinco anos – assinala Sifontes, que também é pesquisador assistente no Centro de Pesquisa Psicológica e Sociológica.
O aumento na quantidade de cristãos coincide com um contexto de crise: o país tem enfrentado o seu pior momento econômico nas últimas três décadas. Para o teólogo evangélico Eliecer Portal, as dificuldades estão diretamente relacionadas à aproximação dos cubanos com Jesus.
– Depois da pandemia, a crise levou muito mais pessoas a se aproximarem da fé e das igrejas. Momentos de crise chamam as pessoas à fé, principalmente quando sentem que suas vidas estão em jogo – assinalou.
Desde a revolução socialista de 1959 liderada por Fidel Castro, o país adotou a concepção científica marxista-leninista e criou normas ateístas para a educação e cultura. No passado, também chegou a proibir pessoas religiosas de ingressarem em determinados ofícios.
– Por exemplo, pessoas religiosas não podiam cursar certas áreas, como jornalismo; não podiam acessar cargos governamentais diretamente. Se você declarasse sua religião ou filiação religiosa, não teria acesso a cargos de liderança no governo. Todos eram questionados sobre sua ascendência religiosa, para tudo. Para ser membro do Partido Comunista da Juventude, você também tinha que declarar seu status ateu, sua posição ateia. Se não, você não era admitido. E isso, claro, para nós, cria toda uma concepção de um Estado ateu – explicou Sifontes.
O pesquisador destaca, contudo, que o “povo cubano nunca deixou de ser religioso”. Ele ainda aponta que, desde 2020, houve um relevante aumento de fiéis dos movimentos pentecostais, neopentecostais e carismáticos. A própria reportagem relata ter presenciado homens e mulheres reunidos nas praças para orar, igrejas em bairros periféricos, no centro e até mesmo no térreo de casas.
– As igrejas evangélicas têm uma metodologia que atrai muito: um espaço de acolhimento, de música, estética… Ali é uma válvula de escape. As pessoas se ajudam, há um caldo de pertencimento, de comunidade, que outros espaços não dão – completou a cientista social brasileira e pesquisadora do Observatório sobre os Neopentecostais na Política, Delana Corazza.